Existem vários tipos de escritores (quem pratica o prazer da escrita com frequência, pode considerar-se um elemento desta espécie)...
Existem os escritores da ocasião, que são aqueles que aproveitam todos os detalhes de um dia passado, para os retratar num diário, pode não ser uma forma de desabafarem, apenas pode ser um método para ocuparem o espaço de tempo que ainda lhes resta do dia, como o podem fazer para, simplesmente, se recordarem num futuro qualquer daquilo que já viveram, quer os tenha feito felizes, ou não.
Existem os escritores para as massas, que é como quem diz, aquele tipo de nomes sonantes que vemos numa livraria Bertrand, mas que de livro e escrita pouco tem, pois apenas foi uma nova forma de se escrever o "Atirei o pau ao gato" de uma maneira mais 2014. Esses escritores, são aqueles que vivem à pála de encherem a sociedade de lixo literário. Eu que sou uma consumidora pontual de literatura, posso dizer que já li mesmo de tudo, nunca recomendo, ou ofereço um livro a ninguém, sem o ter lido antes. E acreditem há mesmo muita sucata à venda...
Existem, ou melhor, existiram os grandes escritores, que transformaram a vida da sociedade com um poema (lembrei-me do "Ser Poeta" da Florbela Espanca, que a maioria pensa que se trata de um "Perdidamente" escrito pelo Luís Represas...), que mudaram mentalidades com um romance (e não temos assim tão poucos, "Amor de Perdição" do Camilo Castelo Branco, "Os Maias" de Eça de Queirós...), livros que fizeram com que as filosofias sobre o existencialismo não passassem de loucuras da época (sim, para quem me percebeu, estou a falar do livro "Aparição" de Vergílio Ferreira.).
Poderia falar de muitos mais tipos de escritores, daqueles que não conseguem ser um só e partem para várias pessoas que vivem dentro de si ou não fosse o Álvaro de Campos, o Alberto Caeiro, o Ricardo Reis e o Bernardo Soares, todos a "mesma pessoa", o próprio Pessoa... E coloco o "mesma pessoa" entre aspas precisamente porque o poeta (tenho para comigo, que se o indivíduo existisse nos dias que correm, era considerado esquizofrénico e estaria internado com amarras no Júlio de Matos, pois a sociedade que tanto evoluiu, não consegue compreender que existem pessoas sobredotadas, ou se calhar até compreende, não quer é aceitar, porque vivemos todos a olhar para o próprio umbigo e não deixamos, nem queremos, nem aceitamos, que "a galinha da vizinha é melhor que a minha") faz questão de ser cada uma das pessoas que criou no seu intelecto (prefiro chamar-lhe intelecto que imaginário, porque os imaginários ficam na deles à espera que chova e os intelectuais criam obras e deixam legados, como foi o caso) sejam distintas umas das outras, para que o leitor não as confunda.
Depois existem os idiotas como eu! Sim, se eu fizesse alguma coisa de jeito, o meu blogue até era mais ou menos conhecido (estilo Pipoca Mais Doce, com a única diferença que eu não conheço a nova colecção da Zara), eu até já tinha escrito um calhamaço de 542 páginas (sem contar com capas, contracapas, prólogo e epílogo), já tinha ganho um daqueles prémios ranhosos de literatura que não servem para nada, apenas para aparecer 3 segundos num qualquer jornal das vinte horas e desaparecer nos 3 segundos seguintes, já tinha viajado para os States a promover a "obra" e acabava os próximos anos como subsidiodependente a sacar putos da linha de Cascais uns seguidos aos outros (com todos o respeito que devo às pessoas normais que habitam lá na vila, até porque tenho lá família). Mas como não nasci com o rabo virado para a lua, sou uma escritora sem nome (no blogue, claro!), que escreve asneiradas umas seguidas às outras sem qualquer nexo, que adora escrever para o tecto (os candeeiros de tecto são excelentes leitores) e que achou que escrever é o melhor remédio, quando já não há remédio nenhum para salvar a minha geração e as gerações que se seguem, pois como já me disseram uma vez "enquanto não abrir a época da caça ao coelho, nada feito!"
Eu sou uma vagabunda da escrita, tanto posso ser poética, como romântica, como um zero à esquerda (quase sempre), ou uma, reitero, idiota que decidiu criar um blogue para deitar quantos palavrões lhe vem à cabeça cá para fora! Há quem diga que tenho vocação para a escrita, a esses eu digo para beberem uns chás de camomila em substituição dos finos que enfiam lá em cima no Maria Xica! Há quem diga que tenho de aprender a por pontos finais, gosto mais das reticências, não ofendo, ninguém me ofende e tal como os pontos finais, não dá margens a dúvidas... digo eu. E depois há quem diga que de tanto ler o Vergílio Ferreira fiquei pior que um pica-pau às marradas num cepo velho... Confesso!! Gosto mais desta última opinião!
A escrita, ao contrário do que se pensa, não é algo que se imponha. Sim, conheço muito boa gente, que acha que a escrita surge na pessoa, logo aos 6 anos, quando vai para a primária. Minha gente, saber escrever e ser escritor são duas coisas completamente distintas. Uma aprende o básico que o ensino (também designado básico) lhe incute: a soma de letras que culmina numa palavra, a soma de palavras que culminam numa frase. Nada mais. O escritor, escreve o que lhe vai na cabeça, o que lhe vai na alma, o que lhe vai no coração, o que vê na sociedade... O escritor faz magia com as palavras. O escritor pega num assunto e expõem, recria, faz evoluir. O escritor usa a escrita como a sua arma de defesa perante as adversidades que a vida lhe dá. É raro o escritor que baixe a guarda! E aquele que o faz, ou já se cansou da vida e de tudo o que ela lhe mostra, ou então, tiraram-lhe a pena e o tinteiro à força!
Afinal, não me considero escritora, nem tão pouco uma pessoa que aprendeu a somar letras e palavras, sou uma entertainer de mim mesma, sou eu que estou no que escrevo e o que escrevo sou eu. Os meus olhos, os meus ouvidos, o meu tacto, o meu pensamento, o meu coração, a minha alma, está no que escrevo. De uma forma menos subtil, sou uma palhaça do meu próprio circo, o papel é a arena, a caneta (ou teclas) são as minhas massas e demais ferramentas e eu vou, com o tenho, fazendo as minhas palhaçadas no papel. Cada palavra é um profundo sentimento sem segundas intenções. Sou o que sou. Sou uma apaixonada pelo que faço. E como todo os apaixonados pela sua "obra", tento fazer a minha como o maior sentimento de amor que me é possível.
Dizem que os românticos são aqueles que oferecem flores... Pois bem, pergunto: onde estão as grandes cartas de amor à moda antiga?! Onde param? A minha geração não quer saber do Fernando Pessoa, ou do Eça de Queirós, do Aquilino Ribeiro ou do Camilo Castelo Branco, mas também perdem. Perdem quando conquistam num bar e não sabem falar, perdem quando conquistam numa rede social e não sabem escrever (a alguns deixo uma dica, apesar de também dar erros ortográficos, "ideia" é português de Portugal e "idéia" é portugues do Brasil...), perdem quando... a rapariga vai à livraria e ele fica à porta, ou olha para os livros como quem olha para prateleiras vazias (infelizmente já tive companhias dessas), perdem quando a rapariga oferece um livro e o rapaz olha para ele e nada vê (nem que o livro seja uma décima edição de uma romancista conhecida à escala mundial). A minha geração, em termos literários, não presta! Leram "Os Maias" porque tinham de fazer uma prova global... E só conhecem o grande Manuel Alegre das eleições para as presidenciais, ou "eleições para uma merda qualquer que aconteceu em Portugual já depois do ano 2000", sem nunca saberem que ele é um escritor de primeira pena, um poeta, um trovante do vento que passa (lá estou eu outra vez... que mania tenho eu de escrever em mandarim... "A Trova do Vento que Passa", sabem lá, os da minha geração, do que falo).
No entanto, como, apesar de mostrar desagrado por se saber tão pouco de escritores e de literatura nos tempos de hoje, ainda consigo ver uma luzinha ao fundo do túnel. Ainda existem aqueles como eu, que sabem o que é literatura e, certamente, passarão a paixão de ler e escrever aos seus filhos... Como diria Luís de Sttau Monteiro: "Felizmente Há Luar".