domingo, 29 de dezembro de 2013

A pancada saldiniana

Acabou-se, ou quase que se acabou, o mês de Dezembro e começa a pancada dos saldos (para alguns a pancada nos saldos). É uma corrida exagerada, eu diria psicopata, para se apanhar a camisola X, as calças Y, os sapatos Z... As filas nas lojas metem um respeitinho tal, que uma pessoa mais sensível tem logo quatro ou cinco ataques de pânico seguidos de rajada.
Caí eu na estúpidez de ir a uma das lojas mais movimentadas do shopping mais movimentado de Viseu e, sinceramente, não me apeteceu perder a pouca sanidade mental que ainda me resta por uma merda de um farrapo de €12. No meio do aparato e da confusão, pergunto-me onde raio anda a crise de que todos falam... Hoje saí de casa com uma hora de antecedência para trabalhar, demorei 25 minutos a chegar ao shopping e 35 minutos para estacionar, deconfio que, com tanta volta, quando chegar ao carro e rodar a chave, o desgraçado do bólide vai torcer a direcção sozinho pelo simples facto de ainda não ter recuperado da tontura...
O shopping não estava cheio, estava a abarrotar de pessoal, acho que mais umas dez pessoas e o betão com que o edifício é composto, não aguentava e lá vinha o vício do século XX abaixo!
O mal das pessoas é não estabelecerem prioridades na vida. Se não forem aos saldos no dia 28 de Dezembro, morrem. Ou ficam em coma. Ou acham-se burros. Ou acham que perdem uma espécie de lotaria. Ou o raio que os parta. Os saldos vão de 28 de Dezembro até 28 de Fevereiro, será que há necessidade de entupirem as lojas logo no primeiro dia? É que ainda por cima, no início de Dezembro é quando as percentagens ainda são baixas, logo a malta não poupa assim tanto quanto pensa. Falo por mim, ou poupo, ou não poupo, essa treta de se ir poupando é uma tanga. Enquanto se vai poupando, vai-se sempre gastando, criando uma pescadinha de rabo na boca. Não se gasta muito, mas também não se poupa o suficiente, logo vai sempre haver um buraco aqui e ali...
Mas falando de saldos propriamente ditos, estou, de certa forma, estupefacta com o Fenómeno do Entroncamento que aconteceu em Portugal este ano, ou melhor, nestes saldos de inverno: A ZARA ENTROU EM SALDOS AO MESMO TEMPO QUE O RESTO DAS COMUNS LOJAS MORTAIS!!! "Oh diabo!!" pensei eu, querem ver que as vendas ao longo dos últimos três meses (?!) foram assim tão más que a marca viu-se "obrigada" a baixar as calças para fazer sair os trapinhos?! Isto, numa opinião muito pessoal, é normal que não tenham vendido um corno. A coleção Outono-Inverno foi assustadora, bem, lá apareceu uma peça ou outra que era vistosa e valia a pena, de resto, é triste ir a uma loja para comprar uns jeans e só encontrar corsários. Bem sei que foi uma tendência, mas eu não sigo tendências, e certamente, que, como eu, haverão muitas mais pessoas que se estão a cagar, literalmente, para as tendências. Eu quero uns jeans, ou calças de ganga, e para mim umas calças começam na cintura e acabam para lá do tornozelo, não acima...
Diz quem lá foi, que as filas eram mais compridas que a muralha da China, e que ainda a manhã vinha longe e já havia gente à espera que a bendita da loja abrisse. Isto é de loucos, não acredito que haja gente a fezer este tipo de coisas... Pessoas, é roupa, trapos, ok?! Não se matem...
Outra coisa que me chocou nestes saldos, foi o facto das pessoas esperarem pelos ditos cujo para comprarem prendas de Natal... Qualquer dia isto vira província espanhola e as prendas de Natal passam a ser dadas a 6 de Janeiro, no Dia de Reis.
Enfim... A ver vamos se sobrevivemos todos a estes saldos, sem levarmos uma chapada numa loja qualquer. Até lá, reitero: não se matem!

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O murro no estómago...

O murro no estómago não é algo que se veja. É algo que se sente das mais variadas maneiras, é composto pela dor que vai para lá daquela que sentimos quando nos partem os ossos. E é uma dor que não tem cura, não vale a pena andar a patinar, a queixarmo-nos como se não houvesse amanhã, a procurarmos os melhores médicos, ou fisioterapeutas. A dor do murro no estómago é aquela que está lá, para passar com o tempo, mas que será sempre lembrada, quando aparecer alguém, menos bem intencionado, que faça questão de nos tocar na ferida, ou cicatriz.
Como é que se dão murros no estómago? Os murros no estómago são dados de forma variável, sem hora ou data marcada, são uma espécie de surpresa, um presente envenenado. Para além daqueles mais óbvios, ou seja, aqueles perceptíveis que é quando, depois de o levarmos, fazemos aquele típico ar de cão abandonado à procura do dono, existem aqueles mais imperceptíveis, onde aparecemos de cabeça erguida e nariz empinado num estilo "está tudo bem", mas, mal aguentamos as dores...
Os murros no estómago imperceptíveis, são os clássicos, feitos por mãos de mestre, os mesquinhos que atacam pela calada, deixamdo um rasto de destruição na alma, destruição essa que, nem na melhor farmácia do país se encontra o analgésico ideal. O abandono, o desprezo, a indiferença que reflectem perante cada passo que damos, a falta daquele "olá" ou "bom dia" que nos leva à insanidade mental a cada segundo que passa... Quem nos faz isso é pugilista profissional, que ataca sem dó nem piedade e pouco se importa com os estragos que faz, desde que saia vitorioso, de troféu na mão, "vi e venci", "quero, posso e mando", "o que eu quero será meu". E lá vamos nós, os vencidos, de orelha caída, a naufragar num mar de águas turvas sem saber se sobrevivemos amanhã, daqui por uma semana, um mês, ou daqui por um segundo.
Normalmente os pugilistas do murro no estómago, raramente acabam bem. Lá diz o ditado que "quem vai à guerra dá e leva", é o que acontece a esta gente. Lá vem o dia da distração, o dia em que não contam com a resposta na mesma moeda, lá acabam por ter o azar de se cruzarem com outro pugilista do murro no estómago e a guerra é doentia. Soco cá, soco lá, o desgaste da alma é notorio. Deixam de ser dois seres humanos para serem dois corpos de guerra, autênticos sacos de pancada, com expressões sem sentido, diálogos sem nexo, corações sem sentimentos... Apenas conseguem viver dentro do castelo de gelo que fizeram à sua volta... E olham para fora com expressão vazia.
O que sente um pugilista de murros no estómago que está enclausurado no seu castelo de gelo? Pois, ninguém sabe. A friza é tanta que quem vive no mundo dos vivos, fora do reinado de gelo, nem sabe se essa gente sente ou não, depois de tanto soco ter dado e levado. Acredita-se, porém, num mito... Diz a "lenda" que esses seres que vivem no reinado do gelo, quando olham através das muralhas do castelo de gelo, ficam com saudades. Saudades de serem quem eram antes de se tornarem pugilistas, têm saudades de sentirem, de amarem e, curiosamente, serem amados. Vertem-se-lhes cristais de gelo no lugar de lágrimas, o coração está tão congelado que nem sentem dor, mas olham, vêm, querem voltar, mas já é tarde. Quem constrói um castelo de gelo para morar, raramente sai da sua "zona de conforto", até querem viver, voltar a sentir, mas ser frio e mandar murros com a desculpa da autodefesa por terem sofrido muito, é bem melhor que voltar à luta da vida, à luta de felicidade. Para além de malvados pugilistas, ainda são frios, conformados, comodistas e masoquistas.
Como é que se lida com um pugilista de murros no estómago? Também ninguém sabe... Uns afirmam que o melhor é ignoramos, outros dizem que é a amar intensamente que eles voltam a ser como eram, outros dizem para mantermos amizade porque nunca se sabe quando é que precisamos de tal espécie para nossa própria defesa... Na realidade, um pugilista de murros no estómago será sempre um pugilista de murros no estómago. Uma pessoal cruel e fria sem sentimentos, uma pessoa que por mais que se relacione com os outros, sente-se sempre, de certa forma superior, nem que seja no sofrimento. Um pugilista de murros no estómago é implacável, quer lá saber se há quem sofra com as atitudes dele, "vi e venci", "quero, posso e mando", haverá alguma coisa que se possa fazer com pessoas assim? 
Ainda há outra caracteristica a reter do pugilista de murros no estómago: se alguma coisa está a correr mal, todos são culpados menos ele. Se se der o caso da questão ser directamente com o pugilista, o caldo está entornado, se o dito cujo invertebrado, amante do boxe, estiver amuadinho ou a dar pouco cavaco a alguém, esse alguém é que é o mau da fita! Foi esse alguém que teve atitudes parvas para que o pobre do pugilista de murros no estómago tivesse de praticar a maldade de não ligar nenhum. Foi esse alguém que não foi suficientemente bom para que o pugilista andasse satisfeitinho da vida! De facto não há volta a dar. Os pugilistas de murros no estómago são espertos. E contra espertos não há burro que aguente!!