domingo, 23 de março de 2014

Silêncio...

Diz o ditado que "Vizinhos da porta que não sejam leais, bom dia ou boa tarde, já são conversa a mais". Seria um belo de um provérbio se:
1º - Eu fosse vizinha da pessoa em questão;
2º - Se a falta que lealdade não estivesse do outro lado;
3º - Se ao menos se dissesse a merda do "bom dia" ou "boa tarde".
É aquilo de que falei há uns tempos acerca da mania da superioridade. A malta acha-se o máximo que quer, põe e dispõe, não precisa de olhar a meios para atingir fins e que as pessoas não passam de mero seres (?!) sem qualquer tipo de interesse para a humanidade exclusiva a que pertencem estes indivíduos com a mania da superioridade.
A culpa também é minha, que estou mal habituada. Andei durante estes anos a afagar-lhe o ego e enquanto ele gostou e lhe fez jeito, ia dando resposta. O problema é que, agora que não passo de mais um troféu para a colecção, já não interesso nada. Se falo, ou não falo é para o lado que dorme melhor. Ele nem sequer, quer comunicar, está literalmente a cagar-se para aquilo que eu sou. Sinceramente, não estou para isto, vou fazer-lhe o mesmo. Vou dar-lhe a consideração que ele me dá a mim, se isso o vai afectar, ou não, já não me vai afectar. Quanto mais me preocupo, mais gozada sou. E eu não tenho cara de palhaça, para ter um indivíduo a rir-se às minhas custas a toda a hora.
O que mais me deixa surpreendida é a forma como ele me trata, ou melhor, me engraxa, quando eu estou a menos de 50 metros dele. Sou sempre uma pessoa muito importante, muito inteligente, muito bonita, muito isto e muito aquilo. Viro costas, já nem me conhece. Ou melhor, até conhece, se eu for à terra dele acompanhada de outra gaja, aí já o posso visitar e a outra pobre não vai ficar à porta não é? Mas caso eu vá sozinha a resposta que levo de volta é qualquer coisa do género: "vens sempre quando não deves", ou então "vens para aqui assim, só pensas em ti", best of "tenho de estar aqui sempre de pernas abertas para te receber". Chega! Chegou o meu ponto final. Se ele quiser que eu vá lá ter com ele ao Cu do Judas, que me convide, caso contrário, nem que eu ande a bater com a cabeça nas paredes, mas hei-de fazer os possíveis e os impossíveis para me aguentar e não ir até lá.
É uma verdadeira cantiga do desprezo, antes ainda gostava de saber como corria o meu dia, gostava de saber como estava a família, a sobrinha, perguntava pelo trabalho. Agora, simplesmente, não quer saber! Se estou bem, ou mal, é para a merda do lado que ele dorme melhor. O que interessa é que ele esteja bem, os outros que se fodam, ou neste caso em particular, eu que me foda. Sou capaz de passar um dia inteiro a olhar para a merda do telemóvel umas 542 vezes seguidas, por segundo, à espera de alguma novidade dele, de um "Olá", de um "Estou bem", de uma merda qualquer que não me faça sentir este ser transparente e insignificante em que ele me transformou. Acho que o excesso de zelo e mimo que lhe dei acabou por lhe criar uma margem de manobra para fazer de mim aquilo que ele quer, sem olhar a meios para atingir fins e nem sequer se interessar por saber que a idiota que lhe está a dar atenção é feita de carne e osso e merece uma filha da puta de uma consideração diferente daquela que ele me está a dar.
Não é fácil ter de lidar com tanta merda junta, ainda se este estupor me desse alguma estabilidade emocional, talvez eu não estivesse neste estado quase depressivo em que a única coisa que eu faço, ultimamente, é lamentar-me da vida de merda que tenho. Eu não tenho uma vida familiar das fáceis, mas sempre poderia separar o trigo do joio, teria a vida familiar onde me ajustava da melhor maneira e tentava lidar da melhor maneira, tinha uma vida laboral, que apesar de haverem cá malucos com a mania que só ensinam o que querem e tratam os outros abaixo de lixo, sempre conseguiria também dar a volta. Mas, tudo isto só poderia ser possível se este anormal me desse uma vida emocional, minimamente, estável. O resto podia até ser uma grande merda, mas ele era a minha tábua de salvação, aquele com quem eu poderia contar, para o bem e para o mal, mas não, aquele tipo só vive para uma pessoa só, que é para ele.
Já perdi a conta às vezes que hoje olhei para a merda do telemóvel a ver se ele me diz alguma coisa. é legitimo que me questionem: "porque não lhe falas tu?", sim é legítimo, mas eu não tenho feito, ultimamente, outra coisa na minha vida a não ser por-me em último lugar a pensar nele e no bem estar dele. E o que recebo em troca?! Silêncio? Isto na minha terra chama-se falta de respeito e de consideração. Ele foi peremptório quando me disse que ia precisar da minha ajuda e eu não lha neguei. Então se eu não nego ajuda à sua excelência, porque é que ele agora anda a armar-se em fino? Primeiro deita-me abaixo ao dizer que foi para uma clínica privada gastar um dinheirão, enquanto que me fazia sentir uma farrapilha qualquer por ter de estar à espera de uma cirurgia num hospital público, no meio do Zé Povinho, sem condições algumas. Agora que se acabou o exibicionismo, já não tem mais nenhuma conversa para ter comigo?  Já deixei de ser uma pessoa interessante, com sabedoria para desenvolver uma conversa com ele? Ou será que para se falar com ele, primeiro tenho de lhe mostrar um extracto das minhas contas bancárias, para ele ter a noção se pode ou não socializar comigo? É que realmente um tipo como ele, não pode falar com uma gaja qualquer, tem de falar com uma tipo à altura dele. Uma tipa com estrutura bancária decente para que ela nunca lhe falte com nada... Nunca lhe pude oferecer prendas caras, só lhe pude oferecer sentimentos, amor, bens materiais não. Não tenho dinheiro para poder bajular um tipo com aquilo que ele quer à hora que ele quer. E como sou uma triste que não tenho onde cair morta, sou assim segregada... De que vale ter canudos, se o dinheiro é o que interessa? De que vale ter cultura, saber ler, escrever, fazer música, se são as notas de euro aquilo que mandam neste mundo cão em que vivemos?
Nunca fui pessoa de olhar a ganâncias, nunca fui gananciosa, nem pretendo ser. Apenas quero viver tranquilamente com aquilo a que tenho direito. Se tiver direito a muito, que assim seja, caso contrário, também não me vou andar a lamentar, arregaço mangas e vou à luta que é o que todos fazem! Quantos é que estão na minha situação? Milhares! Não tenho o direito de me queixar. O que me enoja profundamente é este fundamentalismo de que só quem tem dinheiro é que é gente. E este tipo pensa desta maneira. Gosta de dizer quanto tem armazenado nas contas, gosta de oferecer prendas caras, gosta de ir comprar roupas a lojas caras, tudo por uma questão de mostrar status e que é um tipo que pode e que são poucos os que são como ele. Começo a preferir a conhecer gente pobre, em dinheiro, obviamente, existem pessoas que não têm um cêntimo no bolso, mas têm um cérebro invejável, uma cultura surpreendente e um a capacidade de aprendizagem deslumbrante. Esta pobre alma até tem dinheiro, mas cultura não tem nenhuma, nada percebe de ciência, pouco ou nada de literatura e no que concerne a música só ouve Pink Floyd e Metallica, pois não conhece mais nada e o que conhece, ainda têm de ser os outros a falarem da banda X ou Y, senão a pobre alma nem parte em busca, nem parte à pesquisa de nada.
Mas eu gosto dele, apesar dos defeitos dele que me matam, eu gosto dele. Não gosto desta sua mania da superioridade, de não reconhecer que nem todos nasceram com o rabo voltado para a lua, não gosto que ele fique a olhar para mim com cara de pescada cozida quando lhe falo em fotografia. Não gosto quando ele se arma que é o maior da aldeia dele só porque já foi a Paris... Até estou com medo do mês de Maio e não é por causa da minha cirurgia, é mesmo porque ele vai a Londres e lá vou ter de aguentar com a mania de que "já fui a Londres e muitos ainda não", isto na melhor das hipóteses  porque na pior delas, acontece como quando foi desta última vez a Santiago de Compostela, estava tão armado em bom, que nem falou com os pobres endinheirados e incompetentes que não vão a lado nenhum como eu.
É impressionante como é que uma pessoa que é assim, pode ter a coragem de dizer que os outros não têm humildade para lhe pedirem desculpa quando metem o pé na argola... Ele já meteu tanta vez e sempre achou que tinha razão... Tenho de por mesmo um ponto final nisto.
Gosto muito dele, mas isso não chega, quando eu quero fazer parte da vida dele, mas ele descrimina-me por eu ser pobre e não ter o que ele tem...

Nenhum comentário:

Postar um comentário