domingo, 29 de janeiro de 2012

Quando já nada surpreende

"A mente é uma tábua rasa onde a experiência escreve", aprendi esta frase nas aulas de Filosofia quando andava no 10º ano, confesso que nunca mais a esqueci e há medida que os anos vão passando (já lá vão quase 12), cada vez dou mais razão à sua existência.

O ser humano é um pequeno animal ou caixinha de hábitos. O que, no início, nos surpreende, no final, torna-se algo de certa forma banal já sem interesse nenhum. O que hoje nos choca, amanhã transforma-se, nalguns casos, num modus vivendi.

Há meio ano atrás, se visse uma notícia onde se dizia que um homem-bomba fez-se explodir e matou vinte no Iraque, a minha reacção seria: "Que horror, esta gente não tem um pingo de humanidade!". Actualmente, passados quase sete meses, se vir uma notícia onde se diz que os confrontos na Síria já fizeram cinquenta mortos, o meu pensamento é "Só cinquenta?! Foi um bom dia!".

A morte, a vida, a guerra, a paz, a fome, a crise, as doenças, etc, com o passar dos anos tornam-se temas kinky... Nos jornais, televisão, rádio, já não se arranjam temas novos e as pessoas vivem condicionadas à mesma coisa todos os dias, trezentos e sessenta e cinco dias por ano! Daí as pessoas transformarem-se em robots, ou pedras! Se se encontra alguém sensível, às vezes não sabemos responder-lhe à altura, porque estamos gelados e anestesiados com o que vemos e ouvimos...

Não podemos esquecer que, no meio do mundo caótico em que vivemos, existem pessoas com sangue a ferver nas veias e um coração que bate! Muitas vezes, devido à frieza com que somos obrigados a ver as mais diversas situações no mundo, pensamos que somos inofensivos a dizer qualquer coisa (e até somos, porque somos naturais a dizer as coisa, nem sequer nos passa pela cabeça magoar o nosso destinatário) e acabamos por ferir pessoas doces e lindas, pessoas que nos querem bem. O problema que se põe, depois, é na compreensão. Nós (os "frios") não conseguimos compreender onde foi que magoámos, a pessoa com quem comunicamos... Interrogamo-nos "Mas o que é que eu disse?", "Eu não disse nada de mal?", "Magoar?! Eu?! Mas eu não quero magoar ninguém!!"... Entre outras questões, porque nós os "frios", também somos sensíveis, mas como estamos mais expostos à violência, não nos apercebemos que de um momento para o outro ficamos brutos, verdadeiros ursos!

Acho que deveria haver um programa psiquiátrico para os "frios", um programa de treino de sentidos, para sabermos educar a nossa frieza e reconhecer quando temos uma pessoa sensível e meiguinha à nossa frente. Porque se vamos viver apenas a analisar actos vis, perdemos a noção de como é ser amável, generoso e, até, boa pesoa!

Não podemos viver num mundo onde nada nos surpreende, porque todos os dias existem surpresas lindas e prontas para nós... Pessoas com um coração e braços abertos para nos receber!

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